Emergência (David Yates)

Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica (2022)
Ricardo Santos e Pedro Galvão (eds.)
Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
Neste artigo, discuto o problema das propriedades emergentes, começando por apresentar uma concepção tradicional de acordo com a qual estas propriedades exibem três características definidoras: elas dependem de propriedades e relações físicas, mas constituem, em relação a estas, uma novidade e, como tal, não são delas deduzíveis. Em primeiro lugar, discuto algumas das razões gerais que explicam o facto de tradicionalmente se supor que este tipo de novidade – e.g. causal ou qualitativa – parece exigir que as propriedades emergentes não se encontram, de todo, fisicamente fundadas, não podendo ser deduzidas das suas bases físicas. Portanto, a dependência física das propriedades emergentes não pode ser explicada, o que é normalmente tido como misterioso. Recorrendo a uma concepção funcionalista de dedutibilidade, discuto de seguida, com mais detalhe, a relação entre a novidade e a não-dedutibilidade, realçando o modo como os diferentes tipos de não-dedutibilidade conduzem a diferentes tipos de novidade e, como tal, a diferentes formas de emergência. Finalmente, considero algumas abordagens científicas modernas que rejeitam a não-dedutibilidade enquanto condição necessária da emergência. Segundo tais abordagens, o tipo de novidade
associado às propriedades emergentes é compatível com uma fundação física, o que, por sua vez, faz desvanecer o mistério e confere respeitabilidade científica à noção de emergência. Concluirei estabelecendo comparações entre estas abordagens e o hilomorfismo neo-Aristotélico.

Palavras-chave: Emergência, não-dedutibilidade, fundação, fecho causal, hilomorfismo.
In this article I discuss emergent properties starting with a traditional conception, according to which such properties exhibit three defining characteristics: they are dependent on, but novel in relation to, hence non-deducible from, physical properties and relations. I first discuss some general reasons why it has traditionally been supposed that the kind of novelty—e.g. causal or qualitative—posited of emergent properties seems to require that they are not physically grounded in any way, hence not deducible from the physical. The dependence of emergent properties on the physical thus cannot be explained, which is why emergence is normally regarded as mysterious. Using a functionalist notion of deducibility, I then proceed to discuss the relationship between novelty and non-deducibility in more detail, highlighting the way in which different kinds of non-deducibility lead to different kinds of novelty and hence to different forms of emergence. Finally, I consider modern scientific approaches to emergence that reject non-deducibility as a necessary condition. According to such approaches, the kind of novelty associated with emergent properties is consistent with their physical grounding, which removes the mystery from emergence and adds scientific respectability. I conclude by drawing comparisons between such approaches and neo-Aristotelian hylomorphism.

Keywords: Emergence, non-deducibility, grounding, causal closure, hylomorfism.

Conteúdo

1. Definindo emergência
2. Emergência e não-dedutibilidade
3. Terá a emergência ontológica de permanecer misteriosa?

DOI: https://doi.org/10.51427/cfi.2022.0009

How to cite this article:
David Yates. Emergência. In Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica (2022), Ricardo Santos e Pedro Galvão (eds.), Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa