Um dos maiores desafios a qualquer teoria da consciência é explicar o caráter fenomenal dos estados conscientes. Por que estados conscientes estariam associados a determinadas sensações? Lewis (1929), quem primeiro introduziu o termo, definia “qualia” como estados irredutivelmente subjetivos que seriam inefáveis, infalíveis e privados. Entretanto, o termo hoje é usado para se referir de forma mais ampla as qualidades sensoriais que constituem as experiências. Nesse breve ensaio eu apresento e critico as principais posições contemporâneas sobre o tema ao mesmo tempo que defendo uma tese própria que, na falta de um termo melhor, denomino representacionismo de veículo. Essa tese é uma síntese de ideias presentes e populares na literatura, guiada por um conjunto de desiderata amplamente aceitos Mais especificamente, tal tese guarda semelhanças tanto com o realismo de qualia quanto com o representacionismo. Entretanto, ao invés de identificar o caráter fenomenal a alguma propriedade não-representacional intrínseca da experiência ou do cérebro (realismo de qualia) ou a propriedades representadas pelo cérebro (representacionismo), a ideia aqui é apoiar a tese segundo a qual qualia são propriedades que o cérebro possui (como mapas cerebrais) apenas na medida em que representam propriedades externas.
Palavras-Chave: consciência, propriedade fenoménica, qualia, subjectividade, experiência.
One of the main challenges for any theory of consciousness is to explain the phenomenal character of conscious states. Why do our conscious states feel the way they do? Lewis (1929), who introduced the term, defines “qualia” as irreducibly subjective states that are ineffable, infallibly and private. However, the term is now used to refer more broadly to the felt qualities that make up our experiences. In this short essay I present and criticize the main contemporary positions about the matter and at the same time present and support my own view what for want of a better term, I call vehicle representationalism. My positive view offers synthesis of ideas that are already both present and popular in the literature, guided by a set of desiderata that are widely accepted. More specifically, my positive view has similarities both with qualia-realism and with representationalism. However, rather than equating the phenomenal character of experience either to some intrinsic nonrepresentational property of experience/brain (qualia-realism) or to some represented property by the brain (representationalism), I support the alternative view that qualia are properties that brain possesses (as brain images or maps) only insofar as they do representing of any external properties.
Keywords: consciousness, phenomenal property, qualia, subjectivity, experience.
1. O uso pré-teórico
2. Propriedades intrínsecas à experiência
3. O dualismo de propriedades
4. Funcionalismo e materialismo
5. Representacionismo
6. Representacionismo amplo
7. Representacionismo exíguo
8. Conclusão: veículo da representação
DOI: https://doi.org/10.51427/cfi.2021.0072
How to cite this article:
Roberto Horácio Pereira. Qualia. In Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica (2013), João Branquinho e Ricardo Santos (eds.), Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.