Cepticismo (Rui Silva)

Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica (2013)
João Branquinho and Ricardo Santos, (eds.)
Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
A discussão do problema do ceticismo na filosofia analítica contemporânea centra-se no assim chamado Argumento da Ignorância. Dretske e Nozick contestam-no rejeitando o princípio do fecho, o qual parece ser, todavia, muito intuitivo. Outra reação possível, a do contextualismo semântico ou conversacional, parte da ideia de que em contextos quotidianos, caracterizados por padrões epistémicos pouco exigentes, possuímos conhecimento, o qual se perde em contextos filosóficos, caracterizados por padrões muito exigentes. Esta resposta pode ser considerada demasiado concessiva em relação ao cético. Uma outra forma de contextualismo (protagonizada por Michael Williams) defende que a justificação obedece a uma estrutura de omissão e desafio, de acordo com a qual só devemos justificar crenças desafiadas de forma apropriada num determinado contexto; hipóteses céticas radicais não estão associadas a padrões exigentes, mas simplesmente a princípios epistémicos dúbios. Por último, importa destacar as estratégias anticéticas inspiradas por Moore, as quais respeitam o princípio do fecho e afirmam que conhecemos proposições comuns, daí inferindo a negação de hipóteses céticas. Tais estratégias articulam-se frequentemente com uma conceção externalista do conhecimento.

Palavras-chave: cepticismo, conhecimento, justificação, contextualismo, externalismo.
Abstract: The discussion of scepticism in contemporary analytic philosophy is centered on the so-called Argument from Ignorance. Dretske and Nozick reject it by rejecting the closure principle, which is, however, quite intuitive. Another possible reaction, the semantic or conversational contextualism, departs from the idea that in everyday contexts, characterized by non-demanding epistemic standards, we possess knowledge, which is lost in philosophical contexts, characterized by very demanding standards. This answer may be considered too concessive to the sceptic. Another form of contextualism (represented by Michael Williams) claims that justification obeys to a default and challenge structure, according to which we only have to justify beliefs that are appropriately challenged in a certain context; sceptical hypotheses are not associated with demanding standards, but simply with dubious epistemic principles. Finally, one must consider antisceptical strategies inspired by Moore, which respect the closure principle and claim that we know ordinary propositions, thereby inferring the denial of sceptical hypotheses. Such strategies are often articulated with an externalist account of knowledge.

Keywords: knowledge, skepticism, justification, perception, epistemic externalism.

Conteúdo

1. O desafio céptico
2. A rejeição do princípio do fecho como estratégia anti-céptica
3. O contextualismo semântico ou conversacional
4. O contextualismo do sujeito
5. Moore e a defesa do senso comum
6. Cepticismo e externalismo

DOI: https://doi.org/10.51427/cfi.2021.0006

How to cite this article:
Rui Silva. Cepticismo. In Compêndio em Linha de Problemas de Filosofia Analítica (2013), João Branquinho e Ricardo Santos (eds.), Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.